top of page

Jornalismo contemporâneo: por dentro da grande reportagem

Por Isabella Macedo

O processo de produção de uma grande reportagem pode demandar muito tempo e gerar complicações, mas mesmo assim é algo muito gratificante, como afirma Luiza Villaméa "ao atentar à realidade e ao mundo ao seu redor, o repórter pode obter temas muito interessantes e que rendem boas histórias".



​De acordo com Luiza, o repórter tem de “gastar sola de sapato”. Para a jornalista, o contato e a observação atenta dos personagens sobre os quais irá escrever complementa e muito o momento de fazer a redação de uma grande reportagem. “Eu acho que ver a pessoa é muito importante, ver se ela está olhando para você, se ela está desviando o olhar, como ela fala, como ela gesticula”, afirma.

Porém, antes de ir para as ruas, o jornalista deve investir considerável parte de seu tempo em pesquisas antes de sair a campo. Acerca disso, a entrevistada comenta, não sem humor: “Essas pesquisas, principalmente essas em arquivo, envolvem ácaros, poeira e você fica, às vezes, meio detonado”. É só aí, uma vez tendo dominado em profundidade o tema, que o repórter obterá não somente uma compreensão maior do assunto tratado, mas também se tornará mais receptivo e sensível a novas ideias, pontos de vista e mesmo a possíveis mudanças na temática principal de sua reportagem. E todo esse processo demanda tempo, interesse e paciência. Luiza já chegou a passar seis meses apurando e produzindo uma só reportagem, como no caso de “A verdadeira história do cofre do doutor Rui”, publicada em julho de 1999 na revista IstoÉ.



Lidar com temas difíceis também faz parte da vida do repórter de grandes reportagens. Seja pela falta de afinidade com o tema, disponibilidade das fontes para conceder entrevistas ou até mesmo sua disposição para falar com o jornalista, o repórter deve ir atrás da informação. E essa é sua obrigação como profissional da comunicação. Como comenta Luiza, “deve-se ir atrás da informação, porque reportagem não é mais nada do que uma história bem contada”, ao que acrescenta: “Você tem de pesquisar, você tem de ir atrás da informação pessoalmente ou também de informações documentais, quando é o caso”.

Um exemplo de matéria especial em que Luiza passou por alguns percalços foi “A saga dos escalpelados”, publicada na revista Brasileiros em março de 2012. Nessa ocasião, a jornalista foi até a região amazônica do país para descobrir e contar as histórias de pessoas que têm o escalpo (o couro cabeludo, como se diz mais corriqueiramente), arrancado de suas cabeças em acidentes de barcos, quando os cabelos enroscam na hélice descoberta que impulsiona a embarcação. Por viverem longe dos centros urbanos (a até dois ou três dias de barco) e socialmente isolados por serem discriminados pela aparência, esses personagens foram mais difíceis de encontrar.

Apesar de ser um tema com início complicado, Luiza afirmou que se sentiu muito gratificada, ao término da reportagem, não apenas por trazer o assunto para a pauta nacional, como também por ouvir de seus entrevistados, relutantes a se mostrarem no começo, que estavam felizes por finalmente aparecerem em uma matéria com essas proporções.

Diferente de alguns profissionais da área, Luiza acredita que as grandes reportagens não estão em extinção. Sobre isso, ela afirma: “Não acredito que a grande reportagem, no Brasil ou no mundo, morreu. Eu acredito que a grande reportagem, a análise bem feita, o trabalho bem feito e bem apurado é o futuro do Jornalismo impresso”. E, antes de encerrada a entrevista, a jornalista completa: “Quando penso em jornalismo escrito, eu acho que é só o trabalho com estofo que vai sobreviver”.

bottom of page